Gravel Birds
750 km de aventura em bikepacking no Alentejo




Castro Verde
750 km
8000 m d+
75% gravel
O Alentejo é uma espécie de paraíso para o gravel e a Gravel Birds é a rota perfeita para explorar o Alentejo ao longo de 750 km em bikepacking.
A rota tem início e fim em Castro Verde, o coração da planície alentejana, num loop de 750 km que percorre de largo a largo o Alentejo profundo e genuíno. Desde o selvagem Vale do Guadiana, às paragens mais remotas da Serra do Caldeirão e às praias parasidíacas da Costa Alentejana.
Mas, para quem procurar vir conhecer o Alentejo aos bocadinhos, dividi a empreitada em 3 loops mais curtos e acessíveis: o Loop do Guadiana, o Loop da Costa Atlântica e o Loop Central (aka L’Abetarda 330).
A rota está lá todo o ano, mas é na Primavera que o Alentejo mais convida a pedalar e que te podes juntar ao nosso evento.
Estás pronto para voar sobre a gravilha?





Gravel Birds: o guia para a aventura
01. O início no coração do Alentejo
No Alentejo dizemos sempre que tudo “é já ali”. Não porque tudo seja perto, naturalmente, mas talvez porque não há assim tanta pressa de chegar. E a Gravel Birds é isso mesmo, uma viagem para fazer sem olhar ao relógio e sem hora de chegar.
O início em Castro Verde não podia ser mais enganador. As peneplanícies à nossa volta, ondulantes e despidas de árvores, são a perder de vista e todas as pedaladas parecem fáceis, mas… nem tudo será assim ao longo dos 750km que nos esperam.
Nestes primeiros quilómetros apenas teremos duas subidas dignas de nota, não pelo seu grau de dificuldade, mas pelas vistas que oferecem: São Pedro das Cabeças e o Alto da Senhora de Aracélis. Ambos são lugares de culto cuja origem se perdeu no tempo, mas que ainda hoje merecem uma demorada pausa para celebrar os céus e a terra.
No topo do cabeço de São Pedro das Cabeças, uma ermida assinala o local histórico da Batalha de Ourique, onde se diz que em 1139 D. Afonso Henriques terá derrotado um enorme exército muçulmano. De acordo com a lenda, no final da batalha, D. Afonso Henriques terá cortado as cabeças aos cinco reis mouros derrotados e se auto-proclamado Rei de Portugal. Ou seja, se Guimarães é o berço de Portugal, terá sido em Castro Verde que o reino foi concebido.
E é também aqui nestas planícies infindáveis que habitam as aves que nos inspiraram a desenhar esta rota. É que na verdade, este cenário aparentemente monótono e desértico, é uma das mais importantes áreas de avifauna estepária da Europa e classificada como Reserva da Biosfera da UNESCO.
Nota: Nestes primeiros quilómetros existem algumas cancelas ou portões que poderão obrigar a várias paragens. É muito importante que voltem sempre a fechar todos os portões que se encontrem fechados, por causa do gado e para garantir uma convivência saudável entre ciclistas e proprietários. Mas será apenas uma situação pontual, pois no resto da rota poucos serão os portões que se encontram fechados.
02. Guadiana, o Grande Rio do Sul
À medida que nos vamos aproximando do Vale do Guadiana, também vamos começar a sentir as diferenças na paisagem. As colinas vão ficando mais ondulantes e as searas vão dando lugar aos montados e aos matagais mediterrânicos. Com (muita) sorte, talvez tenham a oportunidade de avistar algum lince!
O primeiro embate com o Vale do Guadiana será a travessia da ribeira de Terges, logo a seguir à aldeia do Mosteiro, mas até Beja não existirão outras grandes dificuldades. Na aldeia do Mosteiro aproveitem para uma pausa no café da D. Maria, pois será o último sítio onde podem comer uma sandes durante os próximos 20 km.
A travessia da ribeira de Terges é feita a vau, mas o caudal é relativamente reduzido durante quase todo o ano e raramente será preciso molhar mais do que os pés. No entanto, em alturas de chuvas mais intensas, esta travessia poderá ser de todo impossível – avaliem sempre o risco com cautela e procurem alternativa pela estrada se necessário (antes de lá chegarem podem perguntar no Mosteiro como está a ribeira, pois a passagem é bastante usada pelas gentes locais).
Em Beja teremos ainda a oportunidade de reapertar algum parafuso que tenha afrouxado nestas primeiras pedaladas, pois nas próximas centenas de quilómetros não teremos outra oficina de bicicletas especializada.
Em torno de Beja e Serpa, a paisagem é agora marcada pelos extensos olivais e amendoais de regadio. Esta transformação da paisagem, catalisada pela chegada das águas da Barragem do Alqueva, tem causado perdas irreparáveis nos ecossistemas e afectando em particular a frágil avifauna estepária. O “progresso” tem um custo e é importante termos consciência da forma como a nossa vida impacta o mundo à nossa volta.
Depois de Beja iremos pela primeira vez atravessar o Guadiana. Em Serpa, a Cervejaria Lebrinha (onde reza a lenda que as imperiais nunca morrem) é paragem quase obrigatória, mas não se esqueçam de também repor os outros líquidos nos cantis (e todos os mantimentos necessários) para enfrentar o já clássico “Carrossel do Guadiana“. Logo a seguir a Serpa ainda existe a pequena localidade de Santa Iria, mas em Serpa será mais fácil encontrar o que precisamos. Este troço pela margem esquerda do Guadiana é um dos mais remotos da Gravel Birds, com cerca de 30 quilómetros de sobe e desce numa zona muito escassamente habitada. As várias ribeiras que iremos encontrar encontram-se praticamente sem água durante quase todo o ano, mas (mais uma vez) durante períodos de chuva intensa transformam-se em torrentes impossíveis de atravessar e obrigam a encontrar alternativa por asfalto.
03. A Mina de São Domingos
A Mina de São Domingos, explorada desde a antiguidade, chegou a ser a maior exploração mineira em Portugal até aos anos 30 e foi explorada até meados do século passado pela empresa britânica Mason & Barry, que dali extraiu mais de 20 milhões de toneladas de minério. Ao total abandono desde então, é agora o peculiar cenário pós-apocalíptico para milhares de fotos no Instagram.
Depois da longa jornada pela remota margem esquerda do Guadiana, voltamos a encontrar na Mina de São Domingos uma boa oferta de serviços, com cafés, restaurantes, mercearias e alojamentos. Durante o Verão, a praia fluvial é também um forte argumento para se ficar mais algum tempo por aqui.
A partir da Mina de São Domingos o caminho faz-se, obviamente, pela antiga linha de comboio que transportava o minério até ao Pomarão, de onde seguia de barco para outras paragens. Toda a paisagem envolvente é um cenário surreal, desde as terras estéreis e avermelhadas às ruínas da Achada do Gamo. Santana de Cambas, terra raiana de contrabandistas, tem um museu dedicado a isso mesmo e que merece uma visita.
No Pomarão, a dois passos da fronteira espanhola, ainda são bem visíveis os vestígios do antigo porto fluvial. Bom spot para uma pausa à beira-rio antes de nos fazermos à longa subida que se segue.
04. De Mértola à Serra do Caldeirão
Mértola é conhecida pela sua excelente gastronomia e não será fácil largar o prato, mas as magníficas vistas ao longo do Guadiana ajudam a deixar para trás as sopas de peixe do rio.
À medida que nos afastamos do Guadiana, as paisagens vão voltando a aplanar e, a seguir aos Sapos, iremos deixar a gravilha por algum tempo. A estrada que liga os Namorados a João Serra é uma magnífica ciclovia e não a poderíamos passar ao lado.
Nas antigas Termas da Água Santa da Morena a água sulforosa e a cheirar a ovos podres ainda corre na bica, mas há muito que as instalações deixaram de acolher banhistas. Na Corte Pão e Água podem fazer a pausa para tirar a foto da praxe junto à curiosa placa toponímica e será logo a seguir a Alvares que o asfalto se volta transformar em gravilha.
Penilhos, Martinhanes e meia dúzia de pedaladas depois voltamos às termas, desta vez à Água Santa da Herdade. Neste improvável SPA à alentejana, para além dos banhos curativos em água aquecida a fogo de lenha e carregada em baldes à força de braço, é também possível pernoitar durante a curta época termal, entre 24 de Junho e o final de Agosto. As instalações para os aquistas são para lá de básicas, mas a experiência será sem dúvida para recordar. Para além das casas de alojamento, existe um bar onde ninguém passa fome ou sede, mas se o plano for ficar por lá o melhor é ligar antes e confirmar a reserva (João Domingos – 968 960 903). Aqui, mais uma vez, a travessia da ribeira poderá ser complicada em alturas de muita chuva e implicar desvio por estrada.
Retomando o caminho, com os horizontes incrivelmente vastos e a gravilha de classe premium, rapidamente chegamos a São Miguel do Pinheiro. As aldeias começam ficar mais espaçadas e há que aproveitar as ainda que têm uma porta aberta para nos servir um café ou uma sandes em pão alentejano, cozido em forno de lenha e em padarias locais.
Para tanta terra, são muito poucos os que aqui vivem e ainda menos os que vêm de passagem, mas o isolamento que aqui se vive contrasta fortemente com a qualidade dos caminhos que cruzam a paisagem. O piso em terra e gravilha é mais suave e fluído que muitas estradas asfaltadas, convidando a pedalar sem tempo e de olhos perdidos no horizonte.
S. Pedro de Sólis, Fialho, Santa Cruz. Últimas oportunidades para repor mantimentos antes de nos adentrarmos pela Serra do Caldeirão. Com a proximidade à ribeira do Vascão, fronteira natural com terras algarvias, o relevo começa a empenar e a anunciar as dificuldades que aí vêm.
05. A Serra do Caldeirão
Durante os meses de verão, o rio Vascão que vai correndo ali ao lado, até parece adormecido, mas com o regresso das chuvas revela-se de forma impressionante e torna impossível a fácil travessia para o Algarve. Mas não será o nosso caso, pois o nosso caminho não o cruza para além do Alentejo. Nascido no alto do Caldeirão e a desaguar no Guadiana, o Vascão tem a curiosidade de ser o mais longo rio português totalmente livre de barragens ou outras interrupções artificiais. Um verdadeiro rio selvagem.
A longa subida leva-nos ao alto do Caldeirão, passando junto à nascente do rio Mira antes de cumearmos a serra no Pico do Mú, que a 574 metros acima do mar constitui o ponto mais elevado da Gravel Birds e também do Baixo Alentejo. Do outro lado a subida é abrupta mas breve, pois volta logo a subir violentamente até à aldeia de Felizes. Nome relativamente irónico para quem lá chega de bicicleta, mas que talvez se explique pelo bom medronho que ali se bebe. E outro bónus desta aldeia, principalmente para quem pedala em autonomia total, é que os balneários públicos têm chuveiro e água quente. Um luxo.
Depois do duche e dos shots de medronho, o caminho volta a descer, desta vez para seguir ao longo dos meandros da ribeira de Odelouca. Se não me enganei a contar, são 13 as vezes que a rota cruza a ribeira e, a julgar pela torrencialidade típica das ribeiras do sul, não será pêra doce fazer este troço em pleno inverno. Em alternativa, existe uma ligação directa por asfalto do Pico do Mú até S. Barnabé.
Em S. Barnabé não abundam as opções de alojamento, restaurantes ou outros serviços, mas em plena Serra do Caldeirão será a melhor opção para fazer uma pausa. Junto à ribeira de Odelouca teremos o que por ali mais se aproxima de um bed & breakfast – um café/restaurante e um lavadouro público desactivado onde poderemos improvisar a pernoita em bivaque.
Depois de S. Barnabé o piso é quase sempre óptimo, gravilha de primeira qualidade, mas até chegar a Santa Clara-a-Velha (a próxima localidade) ainda teremos 45 km de sobe e desce em plena serra. Neste troço apenas existem dois oásis onde podemos beber um café ou comer alguma coisa, primeiro no “Paraíso da Serra” junto à travessia do IC1 e depois na “Taberna do Ti João”, no Rio Torto.
Em Santa Clara-a-Velha, a praia fluvial no rio Mira convida a um mergulho e uma sesta depois de tirarmos a barriga de misérias. Até mini-mercado, farmácia e multibanco existem por aqui. Bem-vindos de volta à civilização.
06. O Rio Mira e o cheiro a maresia
Até Odemira iremos seguir (quase sempre) lado a lado com o Rio Mira, mas ainda há algumas dificuldades pelo caminho. Após alguns kms a rolar tranquilamente pela margem, o caminho fácil dá lugar a um bom empeno para ultrapassar meia dúzia de cabeços. A boa notícia é que do outro lado será uma longa descida até encontrarmos novamente o rio.
A partir daqui, novamente a par com o rio, será sempre a fundo pelo “SuperFlow do Mira”. O estradão de bom piso e o suave desnível a acompanhar o curso das águas, tornam este troço numa experiência tão fantástica que merecia ter nome próprio.
Em Odemira já começamos a sentir o cheiro a maresia. O mar está mesmo ali ao lado, mas ainda teremos alguns quilómetros pela frente. Depois de cruzar o Mira, a Gravel Birds segue ainda um pouco junto ao rio, mas agora pela outra margem e em sentido contrário. O terreno continua ondulado, mas sem complicações e com piso óptimo para rolar sem preocupações.
Rapidamente chegamos a S. Teotónio e o cheiro a caril e outras especiarias convida a provar a neo-gastronomia asiática, que já vai fazendo parte dos menus locais. Chamuças e Tikka Masala para desenjoar das barras de proteína. E, por entre os plásticos do mar de estufas, chegamos finalmente ao Atlântico!
07. A Costa Alentejana
A praia do Carvalhal é o spot perfeito para nos dar as boas vindas ao mar. Impossível resistir a um mergulho ou pelo menos a ir molhar os pés, mas oportunidades não faltarão, pois agora iremos seguir para Norte o mais possível junto à costa.
A Zambujeira, que fica logo a seguir, rima com navalheira (e com percebes e com moreia frita e com imperiais fresquinhas…) convida a nova pausa. Existem campings junto à praia do Carvalhal e na Zambujeira.
A seguir ao Porto das Barcas, a Gravel Birds sai do asfalto e passa a seguir sobre as falésias até ao Farol do Cabo Sardão. Do Cavaleiro a Almograve será novamente a rolar em asfalto, por entre as estufas de mirtilos, alfaces e tomate cherry.
Em Almograve, a Pousada de Juventude será o sítio perfeito para pernoitar, caso queiram ficar já por aqui para desfrutar da praia. Na Logueira, atalhamos pela gravilha e seguimos até Vila Nova de Milfontes, com a travessia do Mira pela ponte rodoviária.
Em Milfontes não faltam opções para comer e dormir bem, incluindo dois parques de campismo para montar tenda ou dormir em bungalow. Seguindo caminho, até à praia do Malhão apenas será preciso pisar o asfalto por escassos metros, mas atenção aos carros que passam a voar naquela estrada. Se não houver pressa, a praia do Malhão será paragem obrigatória, apesar de terem que carregar a bike às costas pela escadaria de madeira.
Entre a praia do Malhão e a ilha do Pessegueiro teremos uma pequena travessia do deserto. O caminho de areia, umas vezes mais solta que noutras, vai obrigar a fazer pelo menos parte destes 4 km em hike-a-bike. Não é que seja fácil ultrapassar esta dificuldade, mas é um pequeno preço a pagar para escapar à fúria dos automobilistas que se deslocam pela perigosa estrada paralela. Pouco antes de chegarmos à Fortaleza do Pessegueiro, o estradão passa a ser perfeitamente ciclável e podemos respirar de alívio.
Ao chegar a Porto Côvo, a Gravel Birds segue “oficialmente” pela vereda sobre a falésia, mas quem se ficar pela aldeia para pernoitar ou reabastecer, basta inventar caminho pelas ruas da localidade. De qualquer forma, a vereda pela falésia tem vistas espectaculares e vale a pena percorrê-la.
Depois de Porto Côvo, a Gravel Birds ainda segue um pouquinho junto ao mar. Em jeito de despedida do Atlântico, seguiremos pelos passadiços e veredas sobre a falésia até pouco depois da Samouqueira, virando depois costas ao mar e seguindo Alentejo adentro.
08. De volta ao Interior Alentejano
E pronto. Estava a saber muito bem pedalar junto ao mar, mas lá teremos que rumar novamente ao interior. O caminho faz-se agora a rolar por entre quintas e por um pequeno sobreiral que foi resistindo à eucaliptização das serras do litoral alentejano. Pausa para um café na Sonega e siga para o Cercal.
O Cercal será agora a maior localidade nos próximos mais de 100 km que temos pela frente, por isso é de aproveitar para reabastecer a despensa. Entre o Cercal e Almodôvar não faltam aldeias com cafés e mercearias, mas algumas necessidades mais específicas poderão não estar disponíveis.
Após a passagem na Aldeia do Cano, a ermida da Senhora das Neves fica ali fora de rota a implorar por uma visita. O desvio é curto, mas nem por isso fácil. As vistas lá de cima serão, no entanto, recompensadoras do esforço extra.
Seguindo caminho pelo ondulado da paisagem, chegamos a Amoreiras Gare, que é como quem diz, a aldeia da estação das Amoreiras. E em Garvão, terra de bons enchidos, aproveitem para uma pausa e para provar as especialidades locais.
O Sado passa agora mesmo aqui ao lado, mas de rio ainda tem muito pouco. A muito custo lá vai alimentando a barragem do Monte da Rocha, mas os níveis quase sempre muito baixos da barragem são um dramático indicador das Alterações Climáticas, que cada vez vão ficando mais difíceis de ignorar. Pouco depois de passar junto ao paredão da barragem, o camping do Monte da Rocha poderá ser mais uma opção para pernoitar.
Aos poucos, o ondulado da paisagem vai ficando mais suave e já se anuncia o derradeiro regresso à planície, mas ainda há muito que pedalar.
O Castro da Cola é desvio obrigatório. As ruínas indiciam uma longa ocupação desde o neolítico até à época medieval e estima-se que terá sido um dos lugares mais importantes e influentes da pré-história ibérica. Junto às ruínas, para além da ermida, existe um centro interpretativo, um restaurante e várias opções de alojamento.
E mais uma vez cruzaremos o Mira, que nos tem acompanhado desde a nascente no topo do Caldeirão até à foz em Vila Nova de Milfontes. Aqui junto ao Castro da Cola, pouco antes de dar corpo à barragem de Santa Clara, passa-se a seco no Verão mas será preciso molhar o pé (ou ter que ir à volta) durante o Inverno.
Junto ao IC1, a Taberna Cabrita poderá ser porto seguro para petiscar ou beber qualquer coisa antes de chegarmos às aldeias de Gomes Aires e de Santa Clara-a-Nova. E se ainda houver folga nas pernas, as ruínas arqueológicas das Mesas do Castelinho (que ficam pouco depois de Santa Clara-a-Nova) também merecem uma visita. A jornada já vai longa, mas Almodôvar fica já ali.
Em Almodôvar, as opções de restaurante e alojamento são várias e o descanso será bem merecido. Mas para além dos comes e dormes, em Almodôvar é também obrigatória a visita ao Museu da Escrita do Sudoeste, que reúne os tablets de pedra onde os alentejanos primitivos deram o seu contributo para a invenção da escrita. Nós, os alentejanos, sempre fomos muito à frente!
09. O regresso a Castro Verde
Última jornada. Já “só” faltam 123 km para regressar a Castro Verde e a subida à ermida de Santo Amaro será perfeita para aquecer as pernas.
Com o regresso às planícies e à gravilha bem rolante, num instante chegaremos à Corte Zorrinho. Bom sítio para uma pausa e um café.
A auto-estrada do Sul é cruzada sem pagar portagem e, entre montados e porcos pretos a pastar bolota, chegamos a Ourique, a capital do tal Porco Alentejano. Secretos, presas e plumas depois, lá teremos que retomar caminho, nem que seja para procurar um bom chaparro e dormir a sesta.
Depois de alguns quilómetros de boa gravilha, teremos que pedalar outros tantos por mau asfalto. A antiga e esburacada estrada paralela ao IC1 não é o mais belo dos caminhos da Gravel Birds, mas foi o que se arranjou para chegar à Estação de Ourique. Aqui, na aldeia da estação, os comboios já não trazem passageiros e a taberna da Ti Mariana da Estação já não tem a porta aberta para nos servir uma mini e dois dedos de conversa, mas ficam as memórias de outros tempos. Um curto desvio pela aldeia comunitária dos Aivados, e será a rolar por asfalto até Casével.
E depois de Casével, acabaram-se as aldeias. Pela nossa frente, apenas a vila mineira de Aljustrel e muitos quilómetros de planície.
Na antiga estação de Casével já nem comboios passam. O cénico edifício em ruínas é agora uma importante colónia de Peneireiro-das-Torres, um dos passaritos da gravilha que tanto gostamos e que cada vez é mais raro nos céus alentejanos, e que por isso devemos apenas observar de longe e respeitar o distanciamento social, para não causar perturbação.
Em Aljustrel, a vida vive-se em torno da sua mina. Desde a Idade do Cobre que lá anda pessoal a sacar minério do chão e, hoje em dia, toda a gente ou lá trabalha, ou tem um primo ou uma tia ligada à mina. Até Castro Verde já só faltam cerca de 50 km, mas se não houver pressa ou se quiserem conhecer um pouco mais de Aljustrel, será um bom local para passar mais uma noite.
Seguindo caminho, a Gravel Birds cruza a Nacional 2 e passa junto às Teleiras das Pedras Brancas, onde antigamente se queimava o minério em bruto para se lhe extrairem os vários componentes em que aqui o subsolo é rico: cobre, ferro, zinco e chumbo.
Aos poucos, a paisagem vai cada vez mais sendo aquela dos postais do Alentejo: as árvores cada vez mais escassas e os horizontes cada vez mais amplos, tal como a Abetarda, a rainha da estepe, tanto gosta. Com sorte, ainda nos cruzaremos com alguma.
O fim da Gravel Birds aproxima-se a cada pedalada e Castro Verde já surge no horizonte, mas ainda há desculpas para uma pausa. No Monte Paraíso, uma das propriedades que a Liga para a Protecção da Natureza tem em redor de Castro Verde, as ruínas do monte são agora a casa de Peneireiros e Rolieiros. Mais uma vez, sem nos aproximarmos para não causar perturbação, será uma boa oportunidade para observar estas magníficas aves. E já agora, evitem parar na adega das Fontes Bárbaras, pois correm sérios riscos de só conseguir sair de lá no dia seguinte.
Os últimos quilómetros são já de contemplação. Planícies e horizontes infinitos. Na derradeira recta final, a gravilha premium dá lugar a um pedacito de asfalto e já estamos de regresso a Castro Verde. A verdadeira janela sobre a planície.
🧭 Prepara-te melhor para a aventura: lê aqui o meu guia para bikepacking!
Vê o track no Ride With GPS
Os destaques da Gravel Birds
Reserva da Biosfera de Castro Verde
A rota começa e termina em Castro Verde, no coração de uma das zonas mais importantes para a conservação da avifauna em Portugal. É uma região de planície aberta, onde se podem observar espécies emblemáticas e ameaçadas como a abetarda, o sisão, o cortiçol-de-barriga-preta, o rolieiro ou o peneireiro-das-torres. Este tipo de paisagem, conhecido como pseudo-estepe, é raro na Europa e só existe graças ao equilíbrio entre a natureza e as práticas agrícolas tradicionais. É um território especial — não só pelo que se vê, mas pelo que representa — e está classificado como Reserva da Biosfera pela UNESCO, o que diz muito sobre o seu valor ecológico. Respeita a natureza e não deixes marca da tua passagem.
As peneplanície alentejanas
Boa parte da rota atravessa as imensas peneplanícies do Alentejo, muitas vezes quase sem árvores, mas sempre com um céu enorme por cima. É o Alentejo dos postais — mas rapidamente percebes que há muito mais para descobrir. O relevo suave e aberto convida a pedalar com ritmo, sem pressas, e a respirar aquele sentimento tranquilo e único que só se vive no Alentejo profundo.
Guadiana, o grande rio do Sul
As margens do Guadiana são um território agreste e isolado, marcado por natureza bravia e silêncio. É zona de linces, cegonhas-negras e lendas de mouras encantadas. O relevo é irregular, com inúmeras linhas de água encaixadas que obrigam a um sobe e desce constante — o famoso “carrossel do Guadiana”. É um dos troços fisicamente mais exigentes da Gravel Birds, mas também dos mais autênticos.
Mina de São Domingos
A Mina de São Domingos é um dos locais mais memoráveis da Gravel Birds. Antiga zona de exploração de cobre e pirite, oferece uma paisagem inesperada no contexto alentejano: solos avermelhados, estruturas abandonadas ao passado e um ambiente que faz lembrar um cenário pós-apocalíptico. Para além do valor histórico, há boa gastronomia e uma praia fluvial que convida a um mergulho — ideal para tirar o pó da estrada e refrescar corpo e alma.
Serra do Caldeirão
A Serra do Caldeirão marca um dos troços mais exigentes e isolados da Gravel Birds. É aqui que se encontra o Pico do Mú, com 577 metros de altitude — o ponto mais alto da rota e também do Baixo Alentejo. A subida é longa, mas a maior dureza vem depois, com terreno irregular e constante sobe e desce. Nas poucas aldeias esquecidas por onde a rota passa, o tempo corre devagar, muitas vezes empurrado com um copo de medronho caseiro.
Costa Alentejana
A chegada à costa alentejana é um dos momentos mais marcantes da Gravel Birds. Depois de uma longa travessia pelo interior, é tempo de mergulhar no Atlântico e respirar a maresia. As praias semi-selvagens alternam com falésias imponentes, e não é difícil encontrar uma esplanada com peixe acabado de pescar. Ainda assim, convém evitar a época alta do verão, quando o calor aperta e os visitantes são mais que muitos.





Alojamento e Bivaque
Ao longo da Gravel Birds, a disponibilidade de alojamento varia bastante consoante a zona. No litoral, há várias opções — de hostels a alojamentos locais — e é relativamente fácil encontrar onde dormir. Já no interior, é nas vilas e cidades que se concentra a maior parte da oferta. Nas aldeias pequenas, a situação é diferente: a oferta é escassa ou mesmo inexistente, o que exige planeamento cuidado se o objetivo for pernoitar sempre em alojamento. Nos meses de verão, convém reservar com antecedência, especialmente junto à costa.
Para quem prefere viajar em autonomia, o bivaque ou a pernoita em tenda são excelentes alternativas. Embora o campismo selvagem não seja legal em Portugal, a lei é vaga e, desde que se cumpram boas práticas — discrição, respeito pela propriedade privada, montar ao final do dia, levantar cedo e não deixar rasto — a prática é, na maioria dos casos, tolerada. Muitas aldeias do interior têm lavadouros públicos desativados que oferecem ótimas condições para bivaque: chão liso, abrigo parcial e, por vezes, ainda com acesso a água. Consulta o mapa da rota no Ride with GPS — ao longo da Gravel Birds já inventariámos vários spots ideais para bivaque. Só não te esqueças do saco-cama e da colchonete — estes hotéis para bikepackers não vêm com colchão incluído!
Alimentação e Água
Ao longo da Gravel Birds, vais passar por várias vilas e aldeias onde é possível encontrar cafés, mercearias e restaurantes, mas o abastecimento não é garantido em todas as etapas. Em muitas aldeias mais pequenas e remotas, o único café existente serve apenas bebidas e (com sorte) snacks básicos, por isso é fundamental planear bem e levar sempre alguma comida de reserva.
No mínimo, convém levar alguns básicos — barritas, frutos secos, comida liofilizada — para cobrir os troços sem alternativas. Em sectores mais isolados, como a margem esquerda do Guadiana ou a Serra do Caldeirão, podes pedalar várias horas sem cruzar uma única aldeia ou ponto de apoio. Além disso, não subestimes a dificuldade do terreno: em zonas mais técnicas ou irregulares, os quilómetros demoram bem mais a passar.
Leva sempre capacidade para 2 a 3 litros de água. Não precisas de andar sempre carregado, mas convém ter um cantil extra para encher antes de entrares nos troços mais remotos ou se fores pedalar fora de horas. Existem alguns fontanários públicos ao longo da rota, mas nem todos têm água potável — pergunta sempre aos locais antes de encher.
Em Portugal, a água da rede pública é quase sempre segura, mas em aldeias mais isoladas pode vir de captações subterrâneas não tratadas. Quando tiveres dúvidas, pergunta. E se preferires jogar pelo seguro, considera levar um pequeno filtro ou pastilhas purificadoras.
Ah, e já agora: isto é o Alentejo. Por muito que gostes de barritas, não há nada que bata um jantar de grão, uns secretos na brasa ou uma dourada acabada de pescar. Aproveita a viagem, faz pausas e saboreia o que o Alentejo tem de melhor à mesa. E não deixes de parar em São Miguel do Pinheiro ou São Pedro de Sólis para provar o pão “a sério” que lá se faz — dizem os entendidos que é o melhor pão alentejano do mundo!
Como chegar a Castro Verde
Castro Verde é o ponto de partida e chegada da Gravel Birds. Fica no Baixo Alentejo, com acessos relativamente simples a partir dos aeroportos de Lisboa ou Faro.
A forma mais prática para quem vem de longe é voar para Lisboa ou Faro. A partir daí, tens duas opções principais:
Autocarro (Rede Expressos)
Existem ligações diretas para Castro Verde a partir de várias cidades. Para levar a bicicleta, é necessário que esteja semi-desmontada e embalada (rodas fora, guiador rodado, e idealmente dentro de um saco ou caixa). Nem todos os motoristas aceitam bicicletas sem proteção — convém confirmar antecipadamente com a transportadora.
Uma alternativa prática (DIY) que costuma resultar é embalar a bicicleta com película aderente ou um saco do lixo grande com fita cola.
Comboio (CP)
A estação mais próxima é a Funcheira, na linha do Sul, a cerca de 25 km de Castro Verde. A partir daí, podes seguir a pedalar até ao ponto de partida.
Nos comboios regionais, podes levar a bicicleta sem desmontar e sem custo extra, desde que haja espaço disponível. As carruagens com espaço para bicicletas estão sinalizadas com o símbolo da bicicleta.
Nos Intercidades, é necessário fazer reserva de lugar para bicicleta (lugares limitados) ou então transportá-la como bagagem desmontada e embalada. Os bilhetes podem ser comprados online — e deves indicar que vais com bicicleta.
O que fazer com a caixa da bicicleta
Se vieres com a bicicleta embalada no avião, uma opção comum é deixar a caixa no depósito de bagagens do aeroporto (Lisboa e Faro têm esse serviço). Outra alternativa é pedir a um alojamento local ou a uma loja de bicicletas que guarde a caixa até ao teu regresso — se fores voltar pelo mesmo aeroporto.
outras dicas
Travessias de Linhas de Água
Ao longo da Gravel Birds, existem várias travessias obrigatórias de linhas de água, feitas a vau. Dependendo da época do ano, estas passagens podem estar completamente secas, ter níveis baixos e fáceis de ultrapassar, ou, em caso de chuvas intensas e prolongadas, tornar-se intransitáveis.
Embora existam alternativas por estrada, estas podem implicar desvios longos e sair do traçado original, comprometendo a logística da etapa. Aconselha-se acompanhar o padrão da meteorologia nas semanas anteriores à viagem e evitar pedalar após períodos chuvosos.
Temperaturas Elevadas no Verão
Durante o verão, as temperaturas no Alentejo podem ser demasiado elevadas para pedalar com conforto — ou segurança — durante o dia. Se quiseres mesmo pedalar nesta época, o ideal é começar bem cedo, ao nascer do sol, e fazer uma longa pausa nas horas de maior calor, retomando apenas ao final da tarde, quando o calor começa a aliviar. Ajusta o ritmo e respeita os sinais do corpo — o calor aqui não perdoa.
Cães de Guarda
Pedalar no Alentejo significa, por vezes, ter alguns “encontros” menos simpáticos com cães de guarda — e a Gravel Birds não é exceção. Normalmente tratam-se de cães que estão apenas a proteger quintas ou rebanhos e estão a fazer o trabalho deles. Nós é que estamos só de passagem.
Evita provocar ou assustar. Fala com voz calma, não atires pedras e, se for preciso, passa devagar ou desmonta, usando a bicicleta como proteção entre ti e o cão. Tentar fugir só resulta se ele ainda estiver longe — porque, sejamos honestos, eles são (quase) sempre mais rápidos do que nós.
Portões e Vedações
No Alentejo, é comum encontrar portões ou “portas de rede” ao longo de caminhos rurais — mesmo em trilhos de livre passagem. Estes portões servem para conter o gado dentro das propriedades e, por isso, é fundamental deixá-los sempre como estavam: fechados se estavam fechados, abertos se estavam abertos.
Respeitar a propriedade privada é essencial para manter uma boa relação entre quem pedala e quem vive da terra. Por vezes os portões são improvisados e o sistema de fecho é um arame manhoso ou um cordel com nós impossíveis — faz o teu melhor para passar com cuidado e deixar tudo como estava.
Primavera: Período de Nidificação das Aves
A Primavera é, sem dúvida, a melhor altura do ano para pedalar no Alentejo — temperaturas amenas, campos floridos e paisagens no seu auge. Mas é também nesta altura que muitas espécies de aves estão em plena época de nidificação e, por isso, mais sensíveis à presença humana.
Os caminhos usados pela Gravel Birds foram escolhidos por seguirem percursos tradicionais de uso local, aos quais as aves já estão habituadas, pelo que pedalar por ali não representa uma perturbação relevante — desde que se mantenha o bom senso. Evita sair dos trilhos, não faças barulho desnecessário e não te aproximes de ruínas ou montes abandonados, pois são locais frequentemente escolhidos por algumas espécies de aves ameaçadas para nidificar. Nesta altura, o respeito pela natureza é ainda mais importante.





Os Loops da Gravel Birds
Percorrer de uma vez os 750 km da Gravel Birds não será certamente para toda a gente, por isso dividi a rota em 3 loops mais curtos e acessíveis: o Loop do Guadiana, o Loop da Costa Atlântica e o Loop Central (aka L’Abetarda 330). Vejam aqui tudo sobre estes 3 loops:
Loop do Guadiana
200 km | 2200 m d+ | 2 a 4 dias
O Loop do Guadiana é o mais curto dos 3 loops, mas é também o que percorre o território mais selvagem e remoto.
A minha sugestão para este loop é começar em Beja e seguir a rota no sentido horário, passando por Serpa e descendo o rio pela margem esquerda, voltando a cruzar o Guadiana em Mértola e regressando depois a Beja pela margem direita.
alojamento ou bivaque:
Neste loop a disponibilidade de serviços (alojamento, restaurantes, etc) concentra-se nos extremos Norte (Beja e Serpa) e Sul (Mina de São Domingos e Mértola), condicionando o desenho das etapas. No entanto, para quem pretende pedalar com maior autonomia, existem uns quantos lavadouros públicos desactivados onde podem pernoitar em bivaque (vejam os pontos de interesse no mapa).
água e comida:
Em quase todas as aldeias ao longo deste loop há cafés, mas nem sempre têm algo que se coma (vejam os pontos de interesse no mapa).
Existem fontes nalgumas localidades mas a qualidade da água é sempre uma incerteza. A água da torneira é quase sempre tratada e potável, mas nalgumas aldeias pode não ser tratada. Perguntem sempre localmente se a água é boa para beber.
como chegar:
Para chegar a Beja temos a possibilidade de viajar de comboio ou autocarro (ou até de avião, se existissem para lá voos regulares…) e é a maior cidade do Baixo Alentejo, com muita disponibilidade de serviços e muita coisa para conhecer.
outras dicas:
Neste loop existem várias travessias obrigatórias de linhas de água. Estas passagens são feitas a vau e, dependendo da época do ano, podem estar totalmente secas, ter alguma água ou (em períodos de chuvas muito prolongadas ou intensas) ser absolutamente impossíveis de atravessar. As alternativas por estrada implicam desvios muito significativos, por isso é recomendado evitar estas épocas do ano.
Durante o Verão, as temperaturas tendem a ser demasiado elevadas para pedalar com conforto durante o dia. Se quiserem mesmo pedalar nesta época, comecem bem de madrugada e façam uma looonga pausa até ao final da tarde, quando as temperaturas voltarem a ser mais razoáveis.
A margem esquerda do Guadiana é o troço mais remoto da rota. Entre Santa Iria (Serpa) e Corte Sines são apenas 30 quilómetros, mas as dificuldades naturais do terreno tornam a progressão bastante lenta. Não menosprezem a dureza deste troço no vosso planeamento.
Loop do Atlântico
264 km | 2900 m d+ | 3 a 5 dias
O Loop do Atlântico percorre a zona mais Ocidental da Gravel Birds, incluindo a Costa Alentejana, mas também as serranias que separam o mar da planície.
Tal como os restantes loops e a própria Gravel Birds, podemos iniciar a nossa viagem em qualquer ponto da rota, mas a minha sugestão para este loop é começar na Funcheira, uma das mais conhecidas estações de comboio do Baixo Alentejo.
O sentido sugerido é o dos ponteiros do relógio, seguindo primeiro para Sul e enfrentando as maiores dificuldades da rota antes de chegar ao mar.
alojamento ou bivaque:
No Loop do Atlântico a disponibilidade de serviços (alojamento, restaurantes, etc) concentra-se naturalmente ao longo da costa, exigindo maior planeamento das etapas na secção interior. As localidades do interior com maior oferta são Santa Clara-a Nova, Odemira, São Teotónio e Cercal. De resto existem vários alojamentos locais dispersos, mas que podem implicar sair da rota (vejam os pontos de interesse no mapa).
Nesta zona mais litoral da Gravel Birds praticamente não existem lavadouros públicos desactivados para bivaque. A pernoita em tenda na área do Parque Natural do Sudoeste Alentejano não é aconselhada.
água e comida:
Na zona litoral será sempre fácil encontrar restaurantes ou outros locais onde comer alguma coisa. O interior exige mais planeamento para gerir mantimentos, mas em geral é uma zona bem mais povoada que a margem esquerda do Guadiana ou a Serra do Caldeirão.
Existem fontes nalgumas localidades mas a qualidade da água é sempre uma incerteza. A água da torneira é quase sempre tratada e potável, mas nalgumas aldeias pode não ser tratada. Perguntem sempre localmente se a água é boa para beber.
como chegar:
Para chegar à Funcheira a melhor opção será (quase sempre) o comboio através da Linha do Sul que liga Lisboa ao Algarve. Para quem usar o carro ou já vier a pedalar, poderá entrar na rota em qualquer outro local que seja mais conveniente.
outras dicas:
Apesar do Verão poder parecer ser a melhor altura para fazer este loop pela costa, a minha sugestão seria precisamente o contrário. Durante o Verão os preços são sempre mais elevados, os alojamentos tendem a estar lotados e nunca somos tão bem servidos nos restaurantes.
Neste loop existem várias travessias obrigatórias a vau do Rio Mira (entre Sabóia e Odemira e junto ao Castro da Cola). Estas passagens dependendo da época do ano, podem estar totalmente secas, ter alguma água ou (em períodos de chuvas muito prolongadas ou intensas) ser absolutamente impossíveis de atravessar. As alternativas por estrada podem implicar desvios significativos, mas bem menos extremos que no Loop do Guadiana.
Loop Central (L'Abetarda 330)
333 km | 3800 m d+ | 4 a 6 dias
O Loop Central da Gravel Birds, também chamado L’Abetarda 330, foi o primeiro dos loops a ser criado e faz parte do evento anual da Gravel Birds desde a edição de 2023.
É uma proposta para conhecer o coração do Alentejo, entre as planícies dos postais e os recantos mais remotos da Serra do Caldeirão.
Tal como no evento, a sugestão é começar a rota em Castro Verde e seguir no sentido dos ponteiros do relógio.
alojamento ou bivaque:
Ao longo da L’Abetarda podemos encontrar em muitas aldeias lavadouros públicos desactivados e (quase sempre) com excelentes para pernoitar. Basta trazer saco-cama e colchonete, claro. No entanto, com excepção da travessia da Serra do Caldeirão, existem muitas opções de alojamento ao longo da rota.
Para quem pretender pernoitar sempre em alojamento, será necessário mais algum planeamento e implicar etapas mais longas ou procurar opções de alojamento fora da rota, pois em toda a zona a sul de Almodôvar a oferta de alojamento será residual.
água e comida:
Em quase todas as aldeias ao longo deste loop há cafés, mas nem sempre têm algo que se coma (vejam os pontos de interesse no mapa), em particular na travessia da Serra do Caldeirão.
Existem fontes nalgumas localidades mas a qualidade da água é sempre uma incerteza. A água da torneira é quase sempre tratada e potável, mas nalgumas aldeias pode não ser tratada. Perguntem sempre localmente se a água é boa para beber.
como chegar:
Para chegar a Castro Verde usando transportes públicos apenas existe opção de autocarro. No entanto, a estação de comboio da Funcheira fica a cerca de 30 km de Castro Verde, uma distância bastante razoável para ser feita a pedalar.
outras dicas:
Durante o Verão, as temperaturas tendem a ser demasiado elevadas para pedalar com conforto durante o dia. Se quiserem mesmo pedalar nesta época, comecem bem de madrugada e façam uma looonga pausa até ao final da tarde, quando as temperaturas voltarem a ser mais razoáveis.
Na Serra do Caldeirão, entre Felizes e São Barnabé, existe um troço com diversas travessias a vau de uma linha de água que tem muito pouca água durante quase todo o ano, mas que em caso de chuva prolongada ou intensa poderá ser complicado ou mesmo impossível de passar. Nestas épocas do ano, existe uma alternativa fácil seguindo a estrada asfaltada entre o Pico do Mú e S. Barnabé.
os loops da Gravel Birds
mapa e dowload no Ride with GPS
O video é da autoria do Nelson Sousa e as fotografias desta página foram captadas por Pedro Cardoso e Nuno Pereira durante o evento Gravel Birds 2024. Todos os direitos reservados.
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