Guia Backpacking

Dicas para caminhar em autonomia

caminhar em autonomia

O primeiro passo para caminhar em autonomia é a escolha do equipamento.

Para fazermos uma caminhada curta basta-nos pouco mais que a roupa do corpo, mas quanto mais longa a caminhada ou quanto mais exigente for o terreno (altitude, isolamento, época do ano, meteorologia, etc.) maior a nossa necessidade de estarmos preparados em termos de equipamento. No entanto, é preciso fazer escolhas, pois todo o peso será levado às nossas costas!

Segue este guia e começa a planear a tua próxima caminhada de montanha em autonomia.

equipamento de acampada

No planeamento da logística para uma caminhada em autonomia, a primeira coisa a preparar é o nosso kit de pernoite: abrigo, saco-cama e colchonete.

A escolha deste equipamento depende muito da época do ano e das condições meteorológicas previstas: Que temperatura mínima vamos ter durante a noite? Há previsão de chuva ou neve?

Estes equipamentos são, normalmente, o que mais peso e volume nos acrescenta à mochila e por isso é aqui que mais podemos cortar no peso a levar às costas.

No fundo, é um compromisso entre o conforto que vamos ter durante a caminhada (mais ou menos peso na mochila) e o conforto que vemos ter durante a noite (só depois de passarmos por umas quantas noites mal dormidas é que daremos real valor ao peso que levamos na mochila!).

Tendas Ortik Approach
Tendas de média montanha

tenda, saco de bivaque, tarp ou hammock?

Para poupar no peso é frequente que se usem soluções mais minimalistas que as tendas tradicionais.

Quando caminhamos em autonomia durante o Verão (se as condições meteorológicas previstas forem favoráveis), podemos simplesmente dormir sob as estrelas usando apenas saco-cama, com a protecção extra de um saco de bivaque ou de uma tarp (lona) para nos proteger da humidade da noite.

O hammock (rede) é uma solução menos usual, mas que para alguns aventureiros é a escolha ideal. Como é necessário fixar o hammock em 2 pontos elevados, apenas podemos usar em zonas onde existam árvores.

No entanto, a tenda é sem dúvida a opção que nos garante a melhor protecção contra os elementos (e contra os insectos!) e é quase sempre a minha escolha.

Hoje em dia existem cada vez mais soluções de tendas ultraleves, como por exemplo a minha nova tenda-tarp Forclaz MT900 que dá a protecção total de uma tenda, mas apenas pesa 900 gr. Esta tenda usa os bastões de caminhada como estrutura (não tem varetas) e existe em versão de 1 ou 2 pessoas.

Tenda ultraleve Forclaz MT900
Tenda ultraleve Forclaz MT900

sacos-cama

Quanto mais baixa a temperatura de conforto de um saco-cama, mais pesado e volumoso será. No entanto, se optarmos por usar sacos-cama com enchimento de penas é possível conseguirmos o peso e volume muito mais reduzido para o mesmo intervalo de temperatura de conforto que um saco-cama com enchimento de fibras sintéticas.

Em relação às fibras sintéticas, os sacos-cama de penas têm a desvantagem de serem um pouco mais caros e de perderem capacidade de isolamento quando estão molhados, mas para mim as vantagens das penas claramente ultrapassam as suas desvantagens: são realmente muito mais leves, compactáveis e confortáveis para dormir.

O saco-cama que uso e recomendo para usar nas nossas montanhas durante boa parte do ano (excepto nos meses mais frios de Inverno) é o Forclaz MT900, para temperaturas mínimas até 10ºC. É bastante leve e quase não ocupa espaço na mochila.

Quando as temperaturas baixam a sério, em actividades de montanha invernais, não convém facilitar e ir preparado com equipamento adequado. Guardem os minimalismos para quando tiverem experiência suficiente para saber até onde podem esticar a corda. Para a maior parte das actividades invernais em Portugal, como referência, podem usar como um saco-cama com temperatura de conforto a rondar os 0ºC, como o Forclaz MT900 0ºC.

Equipamento ultraleve de acampada
Equipamento ultraleve para acampada: tenda, colchonete e saco-cama

colchonetes

Seja Verão ou Inverno, é sempre fundamental usar uma colchonete, quer pelo conforto que nos dá ao dormir no chão duro, quer pelo isolamento térmico da perda de calor do corpo para o chão.

Hoje em dia, as colchonetes insufláveis passaram a ser a opção mais procurada. Permitem um conforto excelente, têm um bom isolamento, são leves qb, mas acima de tudo, são a melhor opção em termos de volume a transportar. Têm o contra de ser mais frágeis e susceptíveis a furar, mas normalmente isso repara-se facilmente com fita americana (duct tape). Há vários anos que uso Forclaz MT500 Air, até agora com zero furos e muitas noites bem passadas.

Se forem para bivacar sem tenda, usem sempre algo a proteger a colchonete do chão para evitar furar (eu uso um pedaço de uma tarp antiga cortado à medida com 2.2×0.8 metros).

As colchonetes de espuma tradicionais (enroláveis ou dobráveis em Z) são óptimas em tudo, excepto no volume e por isso quase sempre têm que ser transportadas no exterior da mochila. Se o volume a transportar não for um problema, podem ser a melhor opção.

Uma terceira opção são as colchonetes auto-insufláveis. Basicamente são colchonetes insufláveis que têm uma espuma “com memória” no interior e que se enchem parcialmente sozinhas ao abrir a válvula, sendo apenas necessário encher no final para dar a pressão certa. Estas colchonetes são normalmente mais finas que as insufláveis, mais confortáveis e têm mais isolamento térmico. No entanto, são mais pesadas e ocupam um volume bem maior quando guardadas.

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lençóis e almofada

Para proteger o saco-cama e reduzir a frequência de lavagens uso sempre um lençol interior. Os lençóis em seda são super leves e fazem toda a diferença na manutenção do saco-cama.

Quando as temperaturas se preveem um pouco mais baixas que o intervalo de conforto do nosso saco-cama, podemos sempre usar um lençol térmico e/ou roupa térmica extra para garantir que não passamos frio (meias de inverno, roupa interior térmica e casaco de penas com capuz fazem milagres).

E almofada, usam? Pode parecer uma extravagância desnecessária, mas raramente vou dormir à montanha sem levar a minha almofada insuflável. Podia muito bem usar um saco estaque com alguma roupa lá dentro (tal como fiz durante muitos anos!), mas definitivamente não é a mesma coisa. O conforto que me dá vale bem a pena os 170 gr que pesa!

COMES & BEBES OUTDOOR

alimentação

A alimentação em viagem depende muito do gosto de cada um, mas principalmente da duração da viagem. Em viagens curtas podemos planear e levar de casa (quase) tudo o que vamos precisar, mas em viagens mais longas vamos principalmente depender do que vamos encontrando para nos reabastecer pelo caminho.

Em viagens mais curtas, ou sempre que o território é mais remoto e implica maior grau de autonomia, faço uma estimativa do que preciso para cada dia e divido  e organizo tudo em sacos ziploc. Não dispenso o café pela manhã, nem uma refeição quente ao jantar, por isso levo sempre comigo o kit de cozinha com fogão a gás, mini tacho, taça e “spork”.

Para poupar gás ao aquecer a água, uso sempre um para-vento. Ao evitar as perdas de calor, consigo ferver a água em muito menos tempo e preparar mais refeições com a mesma botija de gás. Existem vários modelos de para-vento à venda, mas fiz o meu à medida recortando uma embalagem descartável de alumínio take-away (cabe dentro do tacho e pesa meia dúzia de gramas).

As refeições quentes que faço tendem a ser bastante básicas. Já houve tempo em que fazia coisas mais elaboradas, mas hoje em dia prefiro a simplicidade dos noodles Koka ou couscous com um enlatado de qualquer coisa ou, mais simples ainda, das refeições prontas desidratadas. Não é que esta comida desidratada seja o melhor pitéu do mundo, mas basta juntar água quente e esperar meia dúzia de minutos para ter uma refeição minimamente completa.

Sopas instantâneas e chás são também bastante bem-vindos, principalmente antes de ir dormir, pois ajudam a repor a hidratação perdida durante o dia e dar aquele boost de calor para ir dormir quentinho.

Durante o dia, prefiro ir comendo coisas leves em vez de fazer refeições mais completas: frutos secos, cubos de marmelada, bolachas, tostas, marinheiras, fruta fresca, barras de cereais, ovos cozidos, queijo, enchidos. Com o esforço e o passar dos dias, torna-se cada vez mais difícil termos apetite para comer alguns tipos de alimentos e a variedade de opções pode ajudar a combater essa dificuldade.

Existem no mercado várias marcas que prometem “refeições completas” em pó e de preparação instantânea. Há uns anos atrás experimentei uma coisa dessas (não me lembro que marca) e até achei piada, pois pareceu-me cumprir com o prometido: a preparação era bastante simples (juntar o pó à água e agitar), a sensação de fome ficou saciada e senti-me “alimentado” como se tivesse comido comida normal. Comecei recentemente a testar a Huel Powder (apenas ainda provei os sabores de baunilha e chocolate) e não posso dizer que tenha gostado do sabor, mas a solução é tão prática para actividades outdoor em autonomia que vou continuar a tapar o nariz e a emborcar aquela nhaca. Se alguém tiver experiência neste tipo de alimentação (e recomendações de alternativas menos horríveis) que me envie o seu feedback!

Cozinha outdoor
Cozinha outdoor simplificada: noodles e enlatados

água

Mesmo na montanha, nem sempre existe disponibilidade de água ou então necessita ser tratada para poder ser bebida com confiança. Planeiem com antecedência a vossa rota para saber os pontos de água disponíveis ao longo do caminho e se necessita ou não de ser tratada.

Nos rios de montanha, apesar das águas serem frias e límpidas, existe sempre risco de algum tipo de contaminação (por dejectos de animais) e não é recomendado o consumo directo. Nas nascentes, regra geral, podemos beber directamente sem problema, pois a água brota directamente da rocha. Em águas paradas (lagos, represas) o risco é maior e exige mais cuidado no tratamento. Para cozinhar, uma vez que vamos ferver a água, apenas precisamos ter o cuidado de evitar recolher sedimentos.

O tratamento mais seguro e eficaz é ferver a água durante alguns minutos (não basta apenas levantar fervura). No entanto, sempre que o risco de contaminação das águas seja reduzido, a forma mais prática e rápida é usar pastilhas desinfectantes ou um sistema de filtração. Depois de vários anos a usar pastilhas desinfectantes, (re)comecei recentemente a usar filtros e não penso voltar atrás. Tenho um Katadyn BeFree e uma garrafa filtrante da Decathlon, que usam exactamente o mesmo sistema de filtragem com fibras ocas e funcionam igualmente bastante bem. No entanto, no meu kit de primeiros socorros continuo a trazer sempre algumas pastilhas desinfectantes para usar em caso de emergência.

Em pernoitas em tenda ou bivaque durante o Inverno, não deixem as garrafas de água (ou sacos da mochilas de hidratação) expostas ao frio, pois poderão congelar e ficam sem água para beber até ela voltar a derreter. Sempre que as temperaturas se prevejam descer próximas ou abaixo de zero, o melhor é enfiar pelo menos uma das garrafas dentro do saco-cama. Durante o dia também poderá acontecer (em particular no tubo do Camelbak), mas apenas em ambientes muito extremos.

Filtro Katadyn BeFree
Filtro de água Katadyn BeFree

ROUPA E CALÇADO DE MONTANHA

roupa quente e impermeável

Mesmo durante o Verão e com previsão meteorológica favorável, as condições na montanha podem variar sem aviso prévio. Eu nunca saio para a montanha sem pelo menos levar na mochila uma camisola extra e o casaco impermeável.

Conforme a época do ano e o tipo de actividade, uso diferentes combinações de roupa no tradicional sistema de 3 camadas: camada base (junto à pele, mantém o calor e evacua a transpiração), camada de aquecimento (calças de caminhada, camisola de merino, casaco softshell, casaco e/ou colete de penas), camada impermeável (calças e casaco impermeáveis).

Como o espaço na mochila é limitado, devemos privilegiar peças de roupa mais versáteis. Por exemplo, um casaco softshell resistente ao vento e com forro interior, funciona como camada de aquecimento e camada externa – mas também pode ser usado entre o casaco de penas e o casaco impermeável, para protecção total em condições invernais.

Mesmo durante o Verão, levo sempre (pelo menos) um par de luvas. No Inverno, para além das luvas de aquecimento “normais”, levo umas muito finas e as luvas quentes e impermeáveis.

A fita de pescoço em lã de merino é uma das minhas peças de roupa preferidas: serve para proteger o pescoço do sol no Verão, para me aquecer no Inverno, para pré-filtrar as impurezas da água antes de a filtrar ou desinfectar, para dormir mais quentinho no saco-cama ou até para servir como máscara anti-covid durante a pandemia!

Bikepacking Overnight a solo na Comporta
Com todas as camadas vestidas para bivacar na praia

lã de merino

O vestuário outdoor deve ser sempre feito em tecidos que ajudem a evacuar a nossa transpiração, que sequem rápido e que mantenham a capacidade de isolamento mesmo quando molhados.

As fibras sintéticas são normalmente a opção mais usada (boa performance e baixo custo) e o algodão deve ser evitado (baixa performance, principalmente quando molhado). No entanto, a minha opção, principalmente em actividades de vários dias, são os tecidos em lã de merino, mesmo durante o Verão.

A grande vantagem da lã de merino em relação às fibras sintéticas é a redução do odor corporal. Quem já fez actividades de outdoor de vários dias, sem possibilidade de lavar ou trocar de roupa, sabe bem do que estou a falar! Com o uso e a transpiração, as fibras sintéticas ganham rapidamente um odor intenso, enquanto a lã de merino é bastante mais resistente ao desenvolvimento de odores desagradáveis.

Por ser uma fibra natural muito fina, o tecido em lã de merino é menos resistente e com o uso vai apresentar mais desgaste e os furos vão inevitavelmente surgir, mas com uma lavagem cuidada terão uma boa durabilidade.

Queres saber mais sobre o que vestir para caminhar na montanha?

Segue o link e lê o artigo que escrevi para o site da Decathlon!

calçado outdoor

Para caminhar em autonomia as botas de montanha sempre foram a escolha óbvia, mas cada vez mais gente opta calçado mais leve e de cano curto.

Durante o Inverno, usar botas de montanha (impermeáveis) continua a ser a melhor opção: protegem o pé das baixas temperaturas e da humidade. Mas a grande vantagem das botas sempre foi o cano reforçado que protege o tornozelo de entorses, principalmente quando trazemos às costas demasiado peso.

O calçado de cano curto tem a vantagem de ser mais leve e permitir mais mobilidade, podendo ser a melhor opção durante o Verão. Para evitar lesões, reforcem o vosso treino para fortalecer pernas e pés antes de se aventurarem de sapatilhas numa caminhada em autonomia.

Conforme o tipo de terreno e a época do ano, opto por usar sapatilhas de corrida de montanha ou de aproximação. As sapatilhas de corrida são extremamente leves, mas dão uma protecção menor ao pé, pelo que apenas as uso em terreno menos técnico. As sapatilhas de aproximação, por serem um calçado mais técnico, são o ideal quando os trilhos são muito pedregosos ou implicam trepadas em rocha.

Calçado outdoor
Calçado outdoor: botas ou sapatilhas?

OUTRAS DICAS

equipamento ultralight

À medida que a nossa experiência vai aumentando, também as nossas opções de equipamento vão evoluindo. Vamos percebendo melhor o que realmente precisamos, procurando mais conforto e formas de retirar peso à mochila.

Com o desenvolvimento da tecnologia e do design, vão sempre surgindo opções de equipamento mais leves, mas (para poupar peso) a primeira coisa a fazer é mesmo riscar da nossa checklist todas as coisas que julgávamos necessárias, mas que na realidade nunca damos uso.

Depois do “shakedown” da mochila, é na substituição gradual dos equipamentos mais pesados que vamos conseguir poupar mais peso: a mochila, a tenda, o saco-cama e a colchonete.

Pesem o vosso equipamento. Peguem na vossa checklist e numa balança de cozinha e pesem tudo, pois só assim poderão ter a noção plena de onde e como poderão poupar peso, analisando caso a caso cada investimento.

Equipamentos ultraleves tendem a ser mais caros e menos duráveis, por isso não façam grandes investimentos até terem a experiência necessária para perceber as vossas necessidades.

Com o desenvolvimento do trail run têm surgido cada vez mais soluções de equipamento ultraleves, mas que podem ser perfeitamente usados em actividades de caminhada.

Por último, mas não menos importante, há que contar com o peso da água. A água que necessitamos trazer connosco é das coisas que mais contribui para o peso total a transportar, mas não podemos passar sem ela. Com um bom planeamento do percurso e dos pontos de água existentes, podemos ir reabastecendo sem levar peso desnecessário em excesso.

Loop de Loriga

3 dias a caminhar em autonomia pela Serra da Estrela

O Loop de Loriga é uma rota de montanha para conhecer o melhor da Serra da Estrela

Lê o artigo completo e descarrega o track neste link:

mochila

Tradicionalmente, as mochilas para caminhadar em autonomia tinham que ter grande capacidade de carga (60 a 70 litros) e ser estruturalmente muito resistentes para ter a estabilidade necessária e suportar cargas mais pesadas. Devido às características destas mochilas mais robustas, o seu peso é normalmente bem acima dos 2 kg.

Hoje em dia, com o desenvolvimento dos equipamentos de montanha (pelo uso de materiais e soluções mais leves e minimalistas) é possível levar tudo o que precisamos para alguns dias a caminhar em autonomia numa mochila ultraleve e com capacidade para 35 a 55 litros e peso inferior a 1.5kg. No entanto, é preciso ter em conta que estas mochilas (para conseguir reduzir o peso) sacrificam no material de enchimento nos pontos de contacto com o nosso corpo (alças, costas e cintura) e apenas conseguem ser confortáveis até pesos mais reduzidos.

Por regra, considera-se que o peso a transportar não deve ultrapassar os 20% do nosso peso corporal. Com equipamento tradicional facilmente essa regra era quebrada (eu que peso 60 e poucos kg muitas vezes andei com 18 kg às costas…). Hoje em dia consigo caminhar em autonomia com menos de 10 kg na mochila, incluindo o peso da comida e da água.

A mochila que escolhi para caminhar em autonomia é a Forclaz MT900 UL 50+10L. Pesa 1.2kg (sem a capa de chuva) e, apesar de ser bastante minimalista, tem uma excelente capacidade de organização e é super confortável para transportar todo o equipamento que necessito. Entre as soluções de organização, destaco o fecho longitudinal para aceder ao compartimento principal, os bolsos na cintura, as 3 bolsas exteriores (muito práticas para levar uma camisola à mão ou arrumar um casaco molhado) e as fitas de carga externa (que ficam “escondidas” quando não estão em uso).

Mochila ultraleve Forclaz MT900 UL 50+10
Mochila ultraleve Forclaz MT900 UL 50+10

navegação

Nunca a orientação na montanha foi tão fácil como hoje em dia. No entanto, sem os cuidados adequados, podemos facilmente perder o nosso rumo.

As aplicações de GPS nos telemóveis são bastante intuitivas e eficientes, mas consomem muita energia e facilmente drenam a bateria de um telemóvel em poucas horas. Levem sempre powerbank de reserva e, em rotas mais longas ou em zonas mais remotas, levem sempre alguma forma de orientação alternativa.

Os aparelhos de GPS dedicados para uso outdoor são sempre uma opção mais robusta e fiável. No entanto, sempre que a navegação é mais complexa e envolve a análise mais pormenorizada do terreno, as capacidades de um telemóvel são bastante superiores: múltiplas aplicações, pesquisas online, mapas de satélite, etc.

Para navegação outdoor em rotas longas, a minha opção é quase sempre o uso combinado do telemóvel e de um GPS dedicado. O GPS dedicado permite-me ir “seguindo a linha” da rota, registar o traçado que estou fazer e marcar pontos de interesse, mas sempre que necessito analisar o terreno para tomar decisões recorro ao telemóvel. Assim, poupo a bateria do telemóvel e nunca perco o rumo.

Pela sua simplicidade, baixo custo e elevada autonomia de bateria, o novo Garmin Etrex SE é para mim a uma das melhores opções actualmente no mercado.

Para além das aplicações específicas para navegação, existem plataformas online onde podemos desenhar as nossas próprias rotas, descarregar rotas oficiais ou rotas criadas por outros utilizadores.

As rotas desenhadas por mim e partilhadas no website Portugal Outdoor podem ser encontradas na plataforma AllTrails. O registo é gratuito e existe uma aplicação própria que permite fazer navegação, registar a rota feita por cada um e depois partilhá-la com a comunidade.

energia

Cada vez mais, todos nós dependemos de gadgets sorvedores de energia quando vamos caminhar em autonomia: smartphones, GPS, GoPros, drones, lanternas frontais…

Para a larga maioria das actividades outdoor em autonomia cá por Portugal, é possível suprir as nossas necessidades de energia com o uso de powerbanks. Apenas em actividades muito particulares poderá fazer sentido usar formas alternativas de produção de energia (solar, eólica, hídrica, térmica).

Em relação aos powerbanks, um “detalhe” bastante importante para fazer as contas às nossas necessidades energéticas é que existem sempre perdas de energia nas transferências de carga. Essa eficiência é variável e depende um pouco da qualidade dos equipamentos, mas para simplificar podemos fazer as contas a um rendimento aproximado de 70%, ou seja, um powerbank de 10000 mAh apenas dispõe de cerca de 7000 mAh úteis e, se por exemplo quisermos carregar um smartphone cuja bateria tem 3500 mAh de capacidade, teremos teoricamente energia para apenas 2 cargas completas.

A qualidade dos powerbanks que existem no mercado é bastante variável, quer em termos de real capacidade de armazenamento, quer em velocidade de carga ou recarga. Optem por powerbanks de marcas reconhecidas e façam algumas pesquisas online por reviews. Depois de várias experiências menos positivas com powerbanks de marcas brancas, comecei a usar powerbanks dAnker e, até agora, estou bastante satisfeito.

Sempre que viajo em autonomia, trago comigo uma tomada múltipla 220v/USB de carregamento rápido e cabos USB a contar com todos os dispositivos (USB mini, micro ou USB-C). Sempre que existe a oportunidade, vou repondo a carga nalgum café, restaurante ou alojamento.

Durante o inverno, com temperaturas próximas ou abaixo de zero, a autonomia das baterias reduz-se drasticamente e o ideal é proteger as baterias e dispositivos do frio extremo. Por exemplo, é conveniente guardar o telemóvel num bolso interior do casaco e antes (e durante) o uso do powerbank também será conveniente aquecê-lo junto ao corpo para melhorar o rendimento. Em pernoitas invernais (em tenda ou bivaque) guardo todas as baterias e electrónica numa bolsa e meto aos pés dentro do saco cama. 

Ainda em relação aos telemóveis, uma dica importante, é que sempre que estamos em zonas mais remotas e sem rede, o consumo de energia é bastante superior, pelo que o ideal será mantê-los desligados ou em modo de voo.

bastões

Usar bastões é uma das melhores formas de melhorarmos a nossa performance, principalmente quando estamos a caminhar em autonomia.

Aliviam o peso da carga nas pernas, aumentam a nossa tracção em piso solto ou escorregadio, ajudam a ultrapassar obstáculos, servem de protecção contra cães de guarda menos tolerantes à nossa presença, poupam-nos os joelhos em descidas longas ou inclinadas, servem de estrutura em tarps ou algumas tendas…

Para mim, apenas atrapalham quando precisamos de usar as duas mãos, mas isso resolve-se facilmente guardando os bastões na mochila nessas situações específicas.

Os bastões podem ser de comprimento fixo ou ajustável e extensíveis ou dobráveis. Eu comecei recentemente a usar bastões ultraleves para trail running, dobráveis e de comprimento fixo. São apenas menos uns gramas no peso total do meu kit, mas com o passar dos quilómetros nota-se uma grande diferença!

Caminhar em autonomia pela Garganta de Loriga
Os bastões ajudam a evitar entorses em terreno irregular, como nos cervunais da Serra da Estrela

saúde e higiene

A nossa higiene diária durante uma caminhada em autonomia, contribui directamente para o nosso conforto e bem-estar e não deve ser descurada, apesar das óbvias limitações. O cansaço, o frio ou a falta de água são os principais motivos para falharmos a nossa rotina de higiene, mas é importante não falhar nestes aspectos.

À falta de melhor solução, uso toalhitas humedecidas para limpar o corpo ao fim do dia. Lavar/limpar, secar bem e massajar os pés ao fim do dia, activa a circulação e ajuda à recuperação para o dia seguinte. Troquem as meias por umas “novas” ao fim de cada dia (mesmo que já venham usadas) e até a vossa alma se vai sentir renovada.

Uso “detergente” biodegradável de uso geral para fazer toda a higiene (o mesmo que também uso para lavar a loiça) e, sempre que possível, descarto a água da lavagem em local afastado do ponto de água.

Na montanha, o sol tende a ser bem mais forte, pelo que não se esqueçam do protector solar. Baton (ou creme para os lábios) também faz sempre parte do meu kit, pois se o corpo desidratar os lábios são os primeiros a sofrer as consequências.

No meu kit de primeiros socorros trago apenas o essencial, mas que já se provou de grande utilidade: ligaduras, compressas, pensos rápidos e manta de sobrevivência. Ando também sempre com alguns comprimidos (analgésico e anti-inflamatório), isqueiro (com um pedaço de fita americana enrolado), pastilhas desinfectantes para água e uma pinça para retirar espinhos mais teimosos.

Para fazer o “número dois” sigam sempre (que possível, mas às vezes não há tempo!) as boas práticas: afastar-me do trilho e da proximidade de linhas de água (ou zonas húmidas de infiltração), faço um pequeno buraco ou uso a cova natural por retirar uma pedra e, no fim, não deixo nada à vista. Se usarem toalhitas humedecidas, usem apenas toalhitas biodegradáveis (sem plástico).

respeitar a natureza

Nunca é demais relembrar que, para além de pegadas, não devemos deixar qualquer rasto da nossa passagem.

Mas, para além disso, todos podemos fazer um pouco mais para mudar o mundo à nossa volta: durante as nossas caminhadas, podemos recolher o lixo que vamos encontrando; quando caminhamos em grupo, podemos corrigir as atitudes negativas que possamos ver, aproveitando a oportunidade para educar alguém; podemos dar uso às nossas redes sociais para partilhar os bons exemplos ou alertar para situações negativas.

O nosso mundo está sempre a mudar e, em Portugal, estamos a atravessar um período de (re)descoberta das actividades ao ar livre. No pós-pandemia e na “era dos passadiços, dos baloiços e dos miradouros”, muitos milhares de pessoas começaram a aventurar-se pela natureza, muitas vezes sem a educação necessária para saber como se comportar em áreas de grande sensibilidade ecológica.

Cabe-nos a nós, que já andamos nisto há mais tempo, dar o exemplo positivo e contribuir para uma sociedade mais consciente e mais informada para a preservação do nosso património natural.

Acampada no Covão da Areia - Garganta de Loriga
Acampada livre no Covão da Areia - Garganta de Loriga, Serra da Estrela

acampada livre em Portugal

A legislação portuguesa não permite, de forma geral, acampar fora dos locais regulamentados (DL n.º 310/2002, de 18 de Dezembro). Esta lei é proibitiva de forma cega e, mesmo em terrenos privados e com autorização do proprietário, apenas se pode acampar depois de obter uma licença do município e pareceres positivos do delegado de saúde e do comandante da GNR/PSP.

Obviamente que esta lei não foi criada para impedir a pernoite em tenda ou bivaque durante uma rota de longa distância (a pé ou em bicicleta) numa área de montanha, mas à falta de regulamentos específicos para as Áreas Protegidas, acaba por se meter tudo no mesmo saco.

Na ilha da Madeira, em que as Áreas Protegidas têm gestão autónoma (IFCN) existem áreas designadas para pernoitar, bastando fazer um registo online e gratuito: basta indicar qual o local e que dias queremos ficar. Simples e eficaz.

Cá pelo continente, a falta de enquadramento legal de excepção para a pernoite em tenda ou bivaque ao longo de rotas de longa distância, resulta até na impraticabilidade de utilização de boa parte das nossas Grandes Rotas (oficiais) ou na desobediência civil por parte dos seus utilizadores.

Como é possível que existam Grandes Rotas pedestres homologadas (que custaram muitos milhares ou mesmo milhões de euros a implementar), onde existem troços com distância superior a 30 km sem qualquer solução de alojamento ou área designada de acampada que permita a pernoite dos seus utilizadores?

Apesar destas questões legais, a realidade mostra-nos que o número de utilizadores a pernoitar em tenda ou bivaque na montanha ou ao longo de Grandes Rotas é tão reduzido e disperso pelo território que qualquer eventual impacte ambiental é virtualmente inexistente e, por isso, um “não problema”.

A pernoite em tenda ou bivaque durante actividades de montanha sempre foi e continuará a ser praticada por caminheiros e montanhistas. Regra geral, estes utilizadores são ambientalmente conscientes e respeitadores do meio em que desenvolvem a sua actividade.

Os verdadeiros problemas ambientais da visitação nas Áreas Protegidas prendem-se com a massificação de alguns destinos (por exemplo a Costa Alentejana ou o Parque Nacional da Peneda-Gerês) ou outros fenómenos como os passadiços, o caravanismo selvagem, o veraneio em lagos e cascatas ou “a ida à Torre” nos fins-de-semana com sol e neve.

Independentemente dos contornos legais da pernoite na montanha, devemos sempre cumprir com a regra essencial de qualquer actividade ao ar livre: não deixar rasto da nossa passagem. Não façam ruído, não façam fogueiras, não deixem lixo, não danifiquem a vegetação. Para montar a tenda ou instalar o vosso bivaque, escolham locais discretos, afastados das estradas ou qualquer outro acesso de veículos. Apenas montem tendas ao final do dia e levantem o acampamento logo depois do amanhecer.

Pernoitar na montanha é uma decisão pessoal e consciente.

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